O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep) vai reforçar a segurança de acesso ao
sistema do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em entrevista ao G1, Camilo
Mussi, diretor de Tecnologia e Disseminação de Informações Educacionais do
Inep, afirmou que a área ainda estuda detalhes sobre o redesenho do sistema,
mas que já foi definido que ele terá uma camada extra de segurança. "Com
certeza não será esse sistema que está hoje", afirmou Mussi.
O sistema atual de acesso individual às páginas de
cada candidato do Enem tem um mecanismo de recuperação de senha apontado como
falho por especialistas em segurança digital. Para que alguém consiga redefinir
a senha e, por conseqüência, ter acesso ao perfil pessoal do candidato no site
do Enem, do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e do Programa Universidade para
Todos (Prouni), basta que ele tenha acesso a alguns dados pessoais do
candidato, como seu CPF, o nome da mãe e a data de nascimento. A brecha foi supostamente explorada por internautas em um
fórum anônimo, que disseminaram dicas para "furtar" a senha de
candidatos do Sisu que se destacaram no Enem 2016.
"Nós estamos estudando várias opções, uma
delas é colocar o sistema de enviar o e-mail a senha, provisória ou definitiva,
estamos pensando. Ou de enviar por SMS também. Estamos estudando, ainda não
definimos definitivamente. Ou vai ter e-mail, ou vai ter por SMS
cadastrado", afirmou Mussi ao G1. Segundo ele, as definições
de segurança poderão ser atualizadas até maio, quando o sistema for ao ar para
as inscrições da edição 2017 do Enem. "Para 2017 nós seguiremos as
melhores práticas de segurança da informação."
Segundo ele, o novo sistema de segurança também não
deve ser o mesmo da edição 2015 do Enem. Mussi diz que, embora o sistema da
edição 2015 tivesse a função de encaminhar uma nova senha por e-mail, ele também
apresentava uma brecha, já que o usuário podia escolher um e-mail de destino
diferente do que foi cadastrado no ato da inscrição.
No Enem 2016, o diretor de Tecnologia do Inep diz
que o sistema de recuperação de senha perdeu essa função quando as inscrições
foram abertas, em 9 de maio. A gestão atual do Inep só tomou posse no fim de
maio, quando as inscrições já haviam sido encerradas. Para não provocar
confusão nos candidatos, Mussi diz que o Inep decidiu manter o mesmo sistema de
segurança até o fim da edição do exame. "É um sistema muito grande, que
envolve muita gente, 8 milhões de participantes, pessoas de todos os níveis
culturais, todos os níveis de formação intelectual, formal ou não."
Sistema de segurança 'falho'
Especialista em segurança digital e colunista do G1, Altieres Rohr afirma que o sistema de
segurança do Enem é "fraco" e possui falhas graves. "O sistema
é, evidentemente, fraco. O CPF não é informação confidencial e todas as demais
informações é possível descobrir no Facebook de muitos candidatos", diz
ele. "Ele também sofre de uma falha gravíssima", afirma Rohr.
"Todos os dados necessários para trocar a senha (CPF, nome da mãe,
residência, nascimento) são 'fixos'. Uma vez que alguém consegue esses dados
seus, a pessoa vai, para sempre, poder trocar sua senha. Ou seja, a pessoa está
com a chave-mestra do seu login e você não pode fazer nada a respeito."
Denúncias de acesso indevido
Na semana passada, informações divulgadas pelo MEC
ao G1 mostram detalhes sobre as trocas de senha no perfil de
cinco candidatos do Enem 2016. Eles denunciaram atividades suspeitas e
"furto" de senhas por parte de terceiros, além de afirmarem que, com
a nova senha, seus perfis no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) foram
invadidos, e suas inscrições foram alteradas sem consentimento. Uma sexta candidata, do Distrito Federal, afirma que sua nota
na prova de redação foi alterada entre a primeira e a segunda vez em que ela
acessou o site do Enem, e que, depois, sua senha foi trocada. Por isso, ela não
conseguiu acessar o Sisu, e não pode se inscrever.
Dos
outros cinco casos de candidatos inscritos no Sisu, dois tiveram conseqüências
prejudiciais, quando as candidatas descobriram a suposta invasão só após o fim
das inscrições, e viram que acabaram fora da disputa dos cursos que desejavam.
Em dois casos, os candidatos perceberam a troca indevida e conseguiram garantir
que a inscrição validada no fim do prazo do Sisu estivesse correta. No quinto
caso, a estudante já havia desistido de disputar vagas no Sisu deste ano, ao
ver que sua nota não era suficiente para garantir uma aprovação em um curso de
medicina.
Nesta segunda-feira (6), o ministro de Educação,
Mendonça Filho, negou que o site do Sisu tenha sido invadido por hackers.
Após o resultado do Sisu, seis candidatos denunciaram ao G1 terem
tido suas senhas do Enem "furtadas", e cinco deles disseram que suas
inscrições no Sisu foram alteradas indevidamente.
Segundo ele, "o sistema do MEC não foi violado
em momento algum. Se, por ventura, há alguma vulnerabilidade em relação a algum
usuário específico, eu diria que isso é passível de qualquer sistema. Você sabe
como pessoa esclarecida que até cartão de crédito, às vezes uma senha mal
utilizada pode ser utilizada por terceiros. Então, você precisa ter cuidado
para que os seus dados, a sua senha não seja utilizado por quem quer que
seja."
Do G1
0 comentários:
Postar um comentário